lunes, 16 de agosto de 2010

Sonho

Ela chegou à sua beira
devagarinho para não o acordar
e sussurrou-lhe um beijo
antes de adormecer

E ele à fazer-se o dormido
falando em sonhos
lhe disse
amo-te

amo-te ouviu murmurar
amo-te murmurou

E ela de manhã ao acordar pensou
que tinha novamente sonhado com ele

um poema a dois

"The Walk"

Is it wrong to want to see you
to know just where we stand
To take a walk along the beach
together hand in hand.
To talk about each other
and say just what we feel
about this and that and everything
just the thought seems so surreal
Is it possible to find someone
who's both a lover and a friend
As our boundaries of discussion
have no limits, have no end
And that for me, well its a first
to be so open, laid so bare
yet without slightest hesitation
we let ourselves be guided there
I cant help but think and wonder,
as I sit here on the sand
when we'll walk here together
you and I just hand in hand.


by Thomas Hawkins

I carry your heart with me

i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)
i fear
not fate (for you are my fate, my sweet) i want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart (i carry it in my heart)

E.E, Cummings

domingo, 31 de enero de 2010

Creio

creio que foi a poesia
foi a poesia quem abriu a porta
e depois o olhar
um olhar tão cheio de luz
que apetecia entrar nele

Aprendiz (28/01/10)

martes, 12 de enero de 2010

Fazem-se arranjos de costura

O começo? Como foi?

Vêm à memória, imagens de criança. O meu pequeno irmão brinca deitado no chão com soldadinhos de chumbo.

- Mana, porque não atacam eles? pergunta. Porque estão quietinhos a olhar e não se mexem?

Sorrio ao passar a minha mão por entre os seus cabelos negros - talvez tenham medo.

- Ajuda-me! Faz com que eles não tenham medo…

Pego cuidadosamente num soldadinho e olho para ele. Tem a farda tão apertadinha. Vou buscar a tesoura, as linhas, a agulha e os alfinetes. Devagarmente vou descosendo as costuras. Faço isso a todos eles. Descoso e volto a coser. Alargo as costuras. E pouco a pouco vai aparecendo a coragem. Quando os poisamos no chão estão prontos a lutar.

Foi assim que descobri que sei fazer arranjos de costura.

Cresci e fiz da costura a minha profissão. Aos poucos fui arranjando clientes. De todas as idades, de todos os feitios, de todas as cores.

Pediam-me para cerzir a felicidade. Queriam descoser a tristeza e o sofrimento. Alinhavar as novas amizades, reforçar as antigas. Gostavam de alargar a alegria e encurtar a inquietude. De fazer a bainha à ira. De apertar o medo e esconder a culpa. De passajar a saudade, franzir a solidão. Coser o amor e reavivar a paixão. Remendar a paciência. Pespontar a coragem. Bordar a esperança.

Usei tecidos de linho, de veludo, de cambraia. Linhas de seda e algodão. Ponto cheio, ponto flexível, inventei novos pontos.

Aprendi tanto tanto com as minhas costuras.

Aprendi que a felicidade se rasga com facilidade quando não se cuida dela. Que os sonhos se podem ir com o vento se não os costuramos com o tempo. Que descer a bainha à fúria faz aparecer a tristeza. Que o sofrimento deve ser passajado com muita suavidade. Aprendi que a costura do amor deve ser invisível e as linhas resistentes e macias. Aprendi a passar a ferro as rugas da tristeza e a bordar sorrisos. Aprendi a deixar sempre um fio solto na alma.

O tempo foi passando. Os clientes iam e vinham. Alguns uma vez por ano outros todas as semanas. Uns poucos deixavam-se ficar e aprendiam a usar as linhas e as agulhas os pontos e os laços. Quantas vezes nos reunimos ao entardecer e nos reinventavamo numa manta de retalhos.

Mas a maioria tinha pressa. Muita pressa. E começaram a deixar de vir. Descobriam que é mais fácil comprar novo que arranjar. Demora menos tempo. E eles não têm tempo para esperar.

E assim vou ter que arranjar outra coisa para fazer. Com a minha tesoura, as minhas linhas, as minhas agulhas, os meus alfinetes.

E uma ideia começa a des pontar ...